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Alisson Gabriel Anunciação - Maragogipinho: Distrito do Barro e da Pesca Artesanal




    Ao considerar o distrito do município de Aratuípe no recôncavo baiano, o território de Maragogipinho é preenchido com mais de 200 olarias. Local onde sua população carrega consigo uma herança cultural, a tradição do bairro, no qual o manuseio, a produção de utensílios domésticos, peças decorativas, esculturas produzidas com barro e sua comercialização caracterizam a região como o maior centro cerâmico da América Latina.     

    Mencionando a relação entre a pessoa e o objeto, através das concepções de Waldisa Russio quanto ao fato museológico (1990, apud CURY, 2009), essa viagem de campo expande nossas perspectivas como futuros museólogos ao se debruçar na relação dos habitantes de Maragogipinho com a importância de manter uma tradição viva através da existência de um objeto de cerâmica, como forma de preservar uma cultura local, a sua representação história e a habilidade de um povo, que ao longos das gerações aprimorou suas técnicas transformando o simples barro em objetos funcionais no cotidiano, bem como, obras de artes decorativas que ao serem adquiridos e expostos em um determinado local.

Da produção ao comércio das cerâmicas, uma herança familiar

    Durante reconhecimento do local, das olarias e lojas situadas em Maragogipinho, encontramos a loja Taty Artes e Bistrô (@taty.artes.bistr), onde conhecemos a Taís, proprietária da loja e pessoa que nos relatou sua história de vida e a relação familiar existente dentro da produção e comercialização de cerâmicas na comunidade. Taty, assim popularmente conhecida, nos conta que após partir de Maragogipinho em busca de novas oportunidades durante a juventude, decide retornar às raízes e dar seguimento ao ofício passado por sua família.

    O relato da vida de Taty evidencia uma característica significativa do ofício, a transmissão da produção e comércio de cerâmica de uma geração a outra, sendo uma tradição existente no distrito, ao serem ensinadas pelos mestres aos aprendizes as técnicas e designs como forma de manter o ofício em funcionamento. Assim como, descreveu como funciona a divisão do trabalho entre homens e mulheres, sendo as mulheres comumente responsáveis pelo brunimento, que seria o polimento realizado na peça de barro utilizando uma pedra lisa; e a pintura das peças, técnica na qual Taty se tornou referência entre as mulheres de sua família. Enquanto os homens são responsáveis pela produção da peça, sendo o preparo da argila e queima realizada no forno.
Mas que essa tradição da separação das atividades por gênero tem se flexibilizado aos longo das gerações, tendo em vista que há também a presença de mulheres dentro das olarias auxiliando diretamente na produção, com a utilização da Maromba, equipamento que auxilia na retirada do ar da massa de argila, na compactação e na conformação do produto a ser feito. Da mesma forma que há homens que fazem o brunimento e a pintura das cerâmicas. (ALVARES, 2015, p. 203).

    Durante a conversa, Taty demonstra a preocupação da comunidade de Maragogipinho, relacionada a tradição do manuseio e produção da cerâmica com barro não ser passada para futuras gerações, e comenta que deseja futuramente ver a instauração de um museu dentro do distrito, o Museu do Barro, como forma de evidenciar a parte histórica envolvendo a cultura local advinda dos povos indígenas e evitar o esquecimento da produção dessas peças que deram início a toda uma tradição, que atualmente possibilita a renda local de Maragogipinho. Desta forma, permitindo um diálogo com as abordagens participativas da Nova Museologia, discorrida pelo museólogo francês Hugues de Varine-Bohan (2008), quando defende a existência de museus comunitários, nos quais a comunidade local desempenha um papel central na criação e gestão do museu, definindo prioridades e objetivos da instituição, como forma de garantir que os museus atendam às necessidades e interesses da comunidade que servem.

Pesca artesanal em Maragogipinho


    Embora Maragogipinho seja principalmente reconhecido como centro de produção cerâmica artesanal assim como visto anteriormente nesta postagem, o município também se destaca pela mariscagem e pesca artesanal local, atividades importantes para os moradores, que ocorrem ao longo do rio Jaguaripe, sendo igualmente caracterizada como um patrimônio imaterial, tendo em vista o saber, que assim como o ofício das olarias, é repassado por gerações, sendo também fonte de renda extra familiar dentro do distrito. Dentre as espécies registradas, os pescadores locais relatam pescar robalo, sardinha, carapeba e tainha. Assim como, o município também é identificado pela pesca do caranguejo-uçá, espécie característica dos manguezais brasileiro e de grande relevância para as populações litorâneas tradicionais, contribuindo para a geração de emprego, renda e subsistência no território de Maragogipinho (PUGAS; MATEUS, 2016).


REFERÊNCIAS

ALVARES, Sonia Carbonell. Maragogipinho — as vozes do barro: práxis educativa em culturas populares. 2015. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-11052016-163601/publico/SONIA_CARBONELL.pdf. Acesso em: 10 nov. 2023.


DE VARINE-BOHAN, HUGUES. Museus e desenvolvimento social–um balanço crítico1. Museus como agentes de mudança social e desenvolvimento: propostas e reflexões museológicas, p. 11, 2008. Acesso em: 12 nov. 2023.

CURY, Marília Xavier. Novas perspectivas para a comunicação museológica e os desafios da pesquisa de recepção em museus. Actas do I Seminário de Investigação em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola, v. 1, p. 260-279, 2009. Disponível em: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/8132.pdf. Acesso em: 16 nov. 2023.

PUGAS, REJANE MARTINS; MATEUS, GUSTAVO AFFONSO PISANO. A pesca sustentável em Maragogipinho, Aratuípe, Bahia, Brasil. Uningá Review, v. 26, n. 1, 2016. Disponível em: https://revista.uninga.br/uningareviews/article/view/1789. Acesso em: 10 nov. 2023.
Sobre o autor:

 

Alisson Gabriel Anunciação, graduando do curso de Museologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). 

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