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Caroline Sena - "Maragogipinho: Entre as Águas do Jaguaripe e o Barro que Conta Histórias"

Às margens serenas do Rio Jaguaripe, onde as águas calmas refletem o céu tropical da Bahia, emerge um tesouro cultural meticulosamente moldado pela tradição que perdura por séculos. Maragogipinho, esse distrito pitoresco encaixado entre colinas verdejantes e árvores frondosas, transcende a mera definição de localidade histórica. Ele se ergue como o guardião de uma herança única e opulenta, um autêntico epicentro cerâmico que, com uma paixão que atravessa as eras, continua a tecer a história e a arte da cerâmica. Ao percorrer as ruelas estreitas e pitorescas de Maragogipinho, desvendamos uma narrativa intricada de criatividade, tradição e habilidade. Essa história se desenha nas mãos talentosas dos oleiros, que, com destreza, transformam o simples barro em obras de arte duradouras.
Nesta jornada através das encantadoras ruas de Maragogipinho, é imperativo incorporar as reflexões de Georges Henri Rivière, um teórico e museólogo influente. Em sua obra "Museums of Today: Their Place and Their Objectives" (1966), Rivière delineou a importância do 'patrimônio vivo' ou 'patrimônio imaterial'. Essa perspectiva ressalta não apenas a preservação de objetos físicos, mas também a valorização de elementos intangíveis da cultura, como as práticas artesanais transmitidas de geração em geração. Além das contribuições de Rivière, Peter Van Mensch, renomado por suas reflexões sobre museologia e patrimônio cultural, oferece insights inestimáveis. Em obras como "The Power of Heritage" (2004), Van Mensch explora a dinâmica entre o patrimônio cultural e a identidade, proporcionando uma compreensão mais profunda de como comunidades, como a de Maragogipinho, perpetuam suas tradições cerâmicas como parte essencial de seu legado cultural.
Maragogipinho, amplamente reconhecido por suas diversas olarias, ergue-se como o maior centro cerâmico da América Latina. Com uma população de cerca de 3.000 habitantes, a cerâmica se estabeleceu como a principal fonte de renda da comunidade, envolvendo quase 80% de seus residentes na produção artesanal. A transmissão do conhecimento de geração em geração, com pais ensinando aos filhos a arte de criar cerâmica, é vital para a preservação dessa tradição. Isso assegura que a cerâmica de Maragogipinho permaneça não apenas como uma forma de expressão artística, mas também como uma fonte contínua de sustento para a comunidade. A importância dessa herança cerâmica transcende as fronteiras da economia local, destacando-se como um tesouro cultural e histórico de Maragogipinho. O título de Maior Centro Cerâmico da América Latina, conferido em 2004 no Prêmio UNESCO de Artesanato para a América Latina e o Caribe, é um testemunho da excepcional importância da cerâmica do distrito como parte integrante do patrimônio cultural da Bahia e do Brasil.
Ao explorar o distrito cerâmico, não apenas nos conectamos com a matéria-prima, mas também mergulhamos nas narrativas e práticas que transcendem o tangível. A cerâmica de Maragogipinho, como enfatizado por estudiosos como Van Mensch, não é meramente uma expressão artística local; é uma manifestação dinâmica do 'patrimônio vivo', enraizada na história, habilidade e paixão que atravessam gerações. Fontes: RIVIÈRE, G. Museums of Today: Their Place and Their Objectives. UNESCO, 1966. MENSCH,P. The Power of Heritage. Tokyo: Museum Management Academy, 2004.

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