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Lua Nina - "Maragogipinho: Caminho do Barro"

 

Maragogipinho: Caminho do Barro

Em um sábado muito ensolarado, após se perderem uma ou duas vezes pelo caminho, uma pequena “caravana” de estudantes chegou em Maragogipinho, distrito do município de Aratuípe. Mas o que haveria de tão especial nesse lugar? Cercado de tradição, ancestralidade e memória, Maragogipinho é o maior polo produtor de cerâmica da América Latina, possuindo mais de 150 olarias. 

As olarias são espaços destinados à fabricação das peças em barro ou argilas, rodeadas de troncos de madeira. Segundo Sonia Carbonell, é isso que permite a melhor ventilação e entrada da luz solar, necessária para secagem das peças. Algumas dessas olarias ocupam o espaço atrás das lojas dos artesãos.  

Após descer do ônibus e contemplar o “quentinho” do clima local, iniciou-se o tour pelas lojas de cerâmica ao redor da praça de Maragogipinho. E foi nesse momento que a “Taty Artes e Bistrô” se apresentou para mim. Logo de início fiquei encantada com as cerâmicas da loja, e com a gentileza da pessoa que me atendeu.


Fotografia com Taty.

Durante as compras, a conversa fluiu bem, conheci Tais, a ilustre Taty, como é conhecida devido ao nome da loja. Durante a nossa conversa, ela explicou que no local a maioria das famílias trabalham com a cerâmica, um trabalho passado de pai/mãe para filho/filha.

 Existe uma separação de tarefas entre homens e mulheres na hora da criação das peças. É comum que homens fiquem com o trabalho de levantar a peça no torno, o que exige mais força física, enquanto as mulheres se reservam ao processo do brunimento (que seria o alisamento da peça com uma pedra lisa) e também da pintura. Ao entrar na loja de Taty era possível ver um espaço onde os seus pincéis se encontravam.  

Ela também conta que quando mais jovem foi embora de Maragogipinho, anos depois, voltou a sua terra com a decisão de aprender mais sobre o ofício da família. De início foi desacreditada, já que precisaria aprender tudo do zero, mas apesar disso evoluiu e acabou por se tornar uma referência para suas tias no quesito pintura. Atualmente, ela possui uma olaria, herança de sua mãe, a qual ela cuida junto com seu irmão. 


Imagem da fachada da loja.

Além disso, Taty conta que sente medo da tradição se esvair, acredita que seria de grande ajuda se fosse ensinado o ofício do artesanato nas escolas. Assim como a criação de um museu do barro, que visasse contar a história local, com peças que não são mais produzidas e também sobre pessoas importantes para a tradição.

Por um lado, a preocupação dela é (muito) justificável, mas, sob outra perspectiva, Santinha nos observava de canto, ansiando por contar suas aventuras no distrito. Santinha é personagem do livro “Anjo de Barro”, escrito pela professora Ionã Scarante. Adquiri o livro também na loja de Taty.

Ao lê-lo me encantei com a história e a personagem. Ele narra as aventuras de Santinha encantada (assim como eu) pelas obras e vida dos artesãos no distrito. Acredito que iniciativas como essa contribuem muito para a divulgação da história de maragogipinho de maneira leve, lúdica, cativando a todos que lêem a direcionar um olhar mais curioso e cuidadoso para o lugar que permite a criação, bem como perpetuação de histórias através do barro. 

Escrevo sobre isso agradecendo a receptividade e a oportunidade de ter conhecido Taty e com o desejo de contribuir para a propagação do conhecimento sobre o ofício produzido em Maragogipinho.

Nesta exposição leva-se em consideração que objetos suscitam memórias. Assim podemos observar em Maragogipinho. As obras produzidas pelos artesãos da cidade servem como forma de contar a história e preservar a herança cultural de um povo.


 


Acima: Imagens do interior da loja.
   

Imagem do livro "Anjo de Barro".



REFERÊNCIAS:

ALVARES, Sonia Carbonell. Maragogipinho - as vozes do barro: práxis educativas em culturas populares.2016. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.48.2016.tde-11052016-163601. Acesso em: 13 nov. 2023. 



1 comentário:

  1. Um relato sintético, mas que não traz os aspectos, em linhas, da museologia.

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