Apresentação
"Entre Salvador, Maragogipinho e a memórias: caminhos para refletir o patrimônio" é uma exposição virtual que nasce dos registros imagéticos e experienciais originados em viagem de campo para a comunidade de Maragogipinho, localidade do município de Aratuípe, Recôncavo Baiano, distante aproximadamente 220 km de Salvador, capital do Estado da Bahia.
As
olarias, que antes seguiam o mesmo tipo de construção (caibros de madeira e
cobertura de palha), agora suas edificações seguem diferentes padrões estruturais:
algumas se mantém o mesmo padrão antigo (caibro de madeira e massapê, e portas
de ferro fundido (sugerindo que mesmo naquela comunidade é preciso reforçar a
segurança), mas com cobertura de telhas de cerâmica, outras são de alvenaria, e
telhas de cerâmica; muitas delas, em seu interior, além dos espaços destinados ao
trabalho com tornos para a manipulação do barro, secagem e queima das peças em
fornos de tijolos (estilo adobe), delimitaram um espaço para a exposição e comercialização
das peças que produzem.
O número de Olarias também aumentou e parece ter contribuído para que atualmente o distrito de Maragogipinho seja considerado o maior polo de cerâmica da América Latina. Contudo, é preciso ressaltar que esse reconhecimento não foi possível por conta de um alto investimento econômico ou financiamentos milionários como costumam ser vistos em produtos alinhados à logica capitalista, mas sobretudo porque a produção de cerâmica em Maragogipinho continua seguindo a uma tradição que já passa dos 300 anos e os oleiros, como são chamados os artesãos que fabricam as peças, aprendem o ofício desde cedo, numa arte que é passada de pai / mãe para filhos e filhas.
Imagens 6, 7, 8 e 9: Fachadas de Olarias no entorno da central e próximas ao rio Juaguaripe.
Na maioria das vezes, toda a família está envolvida em alguma parte da produção que exige o tratamento do barro, modelagem, secagem, queima e pintura das peças. Circulando pelas olarias, foi possível constatar que a produção de cerâmicas ainda conserva as ferramentas e equipamentos antigos, o que faz valorizar ainda mais o trabalho dos artesãos da comunidade, pela qual, muitas gerações já foram formadas moldando o barro.
Caminho de volta
As emoções provocadas pela emersão de lembranças, o impacto das mudanças no espaço decorridas no e pelo tempo estavam postas, juntas e misturadas com o objetivo inicial que era pensar / refletir sobre o que é patrimônio. Maragogipinho me deu algumas pistas acerca disso!
A reboque de todas constatações acerca e diante da relevância concernente as processos e produtos culturais de Maragogipinho, outras indagações: Porque o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), órgão responsável pela instituição de normas e políticas de estímulo à preservação do Patrimônio cultural no estado da Bahia, ainda não registra e nenhuma sinalização para isso venha a acontecer (pelo menos publicamente como fez com outros processos) a produção cerâmica (considerando que apresenta, com o mesmo potencial e força duas faces da mesma moeda: materialidade e imaterialidade) de Maragogipinho como bem cultural do estado? O modo como desenvolve cada uma das etapas do processo (preparação da argila, modelagem e torneamento, secagem e queima, pintura e decoração), bem como o modo como o processo é ensinado e aprendido não se mostram relevantes para que sejam incluídas em um dos livros de inscrição do patrimônio que fica sob a responsabilidade do mencionado instituto?
Ao tomar o patrimônio cultural a partir da perspectiva museológica é necessário não esquecermos de sempre questionar os seus “usos sociais” do patrimônio, nem tampouco os conflitos e dissensos que podem ser originados pelas práticas de seleção, preservação e consagração que os órgãos responsáveis realizam durante o processo de registro e tombamento do patrimônio cultural. Da mesma forma, é preciso que não se esqueça que o que é legitimado como patrimônio cultural imaterial faz parte do que é nossa herança cultural, cuja origem deve sempre associada aos nossos antepassados e vai (ou deve ser!) incorporado espontânea e fluidamente na concepção que construímos da nossa cultura e na nossa identidade cultural.
[1]
Caxixi é a designação regional que se dá às miniaturas feitas de barro a partir
de muitos tipos de utilitários da região. Um conjunto de caxixi era composto
por panelinhas de barro, jarras de agua, pratos, fruteiras.
O texto, com organização e revelação do patrimônio cultural, revela o lugar, a natureza patrimonial e a incorporação entre museologia e pesquisa documental.
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