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- "Cuscuz é melhor que muita gente" - por Raquel Santos Souza
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Início
"Cuscuz é melhor que muita gente" - por Raquel Santos Souza
Saída de campo da turma de Museologia/UFBA da disciplina de Seminário IV sob a
supervisão do docente José Cláudio de Oliveira no dia 14 de Outubro de 2023. A
viagem teve como destino Maragogipinho, município do distrito de Aratuípe, na
região do Recôncavo. O local ficou conhecido na região pelo o ofício de olaria
aprendido e desenvolvido internamente por seus moradores que vivem da produção e
comercialização de peças feitas de cerâmicas. As peças chamam atenção por sua
versatilidade e a criatividade de seus fabricantes, que ao que vimos, reproduzem
através do barro tudo ou quase tudo. A escolha da cuscuzeira se deu no local, me
interessei pela peça assim que a vi, por me remeter a uma memória de infância
ainda presente no meu dia a dia: os pratos de cuscuz com creme de leite. Dona
Benedita, irmã de fé da mãe, costumava me brindar com cuscuz servido com leite e
creme de leite. O cuscuz da mãe de Paulinha era melhor que o cuscuz da mãe. Digo
isso, porque tenho certeza que mamãe nunca lerá esse texto. O prato de cuscuz
com leite e creme de leite é algo que ainda me traz conforto, e me faz lembrar
de casa em São Paulo, mesmo que esteja a quilômetros de casa. Apenas vi comer
cuscuz com creme de leite a própria família de Benedita e nas últimas décadas,
eu mesma. Penso, no estranhamento que causa, quando digo o meu acompanhamento de
cuscuz, já que existem tantos outros: ovos, carnes, cremes de amendoim, abacate,
maionese, manteiga... O cuscuz está presente no café da manhã, no almoço, no
café da tarde/janta de grande parte dos/as brasileiros/as. Entendo perfeitamente
quando encontro a expressão “Cuscuz é melhor do que muita gente” estampadas nos
chaveiros encontrados nas barracas de venda do Terreiro de Jesus, no Pelourinho.
Na infância a falta de recursos tecnológicos não me possibilitou registrar
nenhuma dessas memórias vide fotografia. Infelizmente, essa como tantas outras
recordações serão vividas apenas na memória, já que nenhum registro fotográfico
existiu. Isso porque, segundo Roland Barth (1984, p. 13), a fotografia permite a
repetição desses momentos que nunca mais acontecerão, em suas palavras, “O que a
Fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma vez: ela repete mecanicamente o
que nunca mais poderá repetir-se existencialmente”. Na viagem, o registro vide
aparelho celular me permitiu registrar e também enviar as fotos do objeto para
minha mãe e irmã Benedita, ambas surpreendidas disseram desconhecer a cuscuzeira
em cerâmica. A cuscuzeira em cerâmica é vendida para uso doméstico, porém,
facilmente poderia pertencer e ser possuída como objeto dentro de um acervo
colecionista. Para Jean Baudrillard (2004, P. 94), Todo objeto tem desta forma
duas funções: uma que é a de ser utilizado, a outra a de ser possuído. A
primeira depende do campo de totalização prática do mundo pelo indivíduo, a
outra um empreendimento de totalização abstrata realizada pelo indivíduo sem a
participação do mundo. Como objeto de uso, usufruímos da cuscuzeira de cerâmica,
principalmente, daquilo que é o seu produto final: o cuscuz, assim, como no
exemplo do refrigerador dado por Baudrillard (1993), mas, no que diz respeito às
paixões, na condição de possuir um objeto, a utilidade deste objeto passa a ser
ignorada em virtude do valor relacional adquirido junto ao indivíduo. Talvez,
por isso, ao tomar conhecimento da existência do objeto em cerâmica, Dona
Benedita, mesmo sem precisar de uma cuscuzeira porque tem várias, se interessou
por adquirir uma, ainda que não fosse diretamente para seu uso, mas, como artigo
de exposição na própria cozinha.
Ficha Catalográfica dos objetos Número de identificação Objeto Dimensões e
técnicas Origem Suporte Partes Iconografía Iconología 001/2023 Chaveiro Altura
11 cm Largura 4 cm /Técnica desconhecida Compra – Pelourinho (Terreiro de Jesus)
Madeira e metal Base retangular em madeira ; Argola em metal. Chaveiro estilo
retrato de formato retangular. Usado como adereço em molho de chaves. Frases
impressas nos suportes: “Cuscuz é melhor que muita gente” e “Bahia”. A
referência encontrada para a frase gravada no chaveiro “ Cuscuz é melhor que
muita gente” é a do vídeo que viralizou na internet em 2020 do professor
Denilson Angelo. No vídeo ngelo diz que as pessoas deviam comer mais cuscuz e
ignorar as pessoas consideradas “difíceis”. A frase repercutiu e como resultado
a frase passou a aparecer estampada em camisas, xícaras e chaveiros. 002/2023
Cuscuzeira Altura 27 cm Parte superior 15 cm Base 10 cm / Barro cozido Objeto
para a venda na Olaria Santo Antonio Cerâmica Tampa; Caçarola; Cozi-vapore
Objeto de uso doméstico em cerâmica. Em formato alongado e com alças de
transporte também em cerâmica. A cuscuzeira em cerâmica talvez não faça parte do
universo das cozinhas do povo brasileiro. Ainda que o cuscuz esteja na mesa de
grande parte dos brasileiros, isso porque, o suporte material das cuscuzeiras de
metais lhes deram maior durabilidade e resistência para o uso diário.
Referências BARTHES, Roland; CLARA, A. Câmara. Nota sobre a fotografia. Rio de
Janeiro: Nova, 1984. BAUDRILLARD, Jean. O sistema marginal: a coleção. O sistema
dos objetos, 2004.
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Seja bem-vindo! O blog Maragogipinho: sob olhares é uma construção coletiva dos graduandos do curso de Museologia na Universidade Federa...
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Texto com carência em sua organização (redação e ortografia), traz poética e memória individual sobre o objeto, com reflexão, de certa forma, poética.
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